Literatura, resenhas de livros e dicas de leitura

Tag: Pós-apocalíptico

Resenha: Mestre das Chamas (Leituras 2020 – 17/20)

Hoje falo sobre o livro “Mestre das Chamas”, de Joe Hill. Um romance apocalíptico (e pós-apocalíptico) que explora a natureza da humanidade em situações extremas.

“Mestre das Chamas” retrata um futuro incerto (mas próximo) no qual um fungo causa uma pandemia global, dizimando boa parte da humanidade. A questão toda é que este fungo causa uma doença popularmente chamada de “escama do dragão”, pois causa infecção na pele dos doentes, levando a combustões espontâneas. Assim, os infectados pegam fogo em poucos dias e morrem.

O clima de terror do livro é dado por conta da incerteza (ao menos no começo) de como se pega a doença e se existe uma cura. É aí que entra a personagem principal do livro. Harper Grayson / Harper Willowes é uma enfermeira de escola que começa a trabalhar num hospital para ajudar durante a pandemia. O casamento com Jakob é abalado quando ela descobre estar grávida no meio do apocalipse e destruído quando ela se descobre infectada com a doença.

Após um episódio de violência do marido ela recebe ajuda de John, um homem vestido de bombeiro (daí o título original do livro: “Fireman”), para fugir e acaba num acampamento escondido onde dezenas de infectados coexistem com a doença e aprenderam a controlá-la, entrando para o “Brilho”, uma espécie de transe catártico coletivo provocado pela doença.

A partir deste ponto, as tramas e subtramas se entrelaçam, o relacionamento dela com John e os demais membros do acampamento se desenvolvem e as dificuldades voltam a aparecer. De “caçadores de infectados” a motins, este livro tem tudo o que se espera de uma sociedade pós-apocalíptica (especialmente nos EUA).

Um fato interessante é que Joe Hill é filho de Stephen King, mas não usa seu sobrenome para evitar surfar tanto na onda da fama de seu pai. Sua escrita é competente e envolve o leitor. Foi o primeiro livro do autor que li e pretendo ler outros.

OPINIÃO: “Mestre das Chamas” me parece ser um livro do tipo “ame ou odeie”. A escrita do autor é muito divagada em alguns momentos, lembrando um pouco Tolkien que é famoso por longas divagações e descrições. Para os que apreciam parágrafos longos que quebram o ritmo do livro, isto não incomodará. Para leitores com um pouco mais de dificuldade de manter o foco na leitura, pode ser um problema.

Sobre a trama, confesso que gostei muito. Gosto de histórias apocalípticas e pós-apocalípticas e esta foi uma grata surpresa. Peguei o livro de graça numa promoção da Amazon e fui sem grandes expectativas. A leitura se revelou agradável e a história muito bem pensada. Até do final eu gostei, e geralmente sempre acho que este tipo de história termina mal ou de forma pouco satisfatória.

Claro que o livro tem alguns problemas. As relações entre os personagens por vezes parecem simplórias e alguns personagens são unilaterais. Isto não seria um problema se o livro fosse um pouco mais curto, mas em quase 700 páginas espera-se que todos os personagens sejam bem-desenvolvidos. Esta queixa não se aplica aos principais, pois são realmente bem aprofundados e cheios de nuances.

“Mestre das Chamas” traz ótimas reflexões sobre a natureza humana, uma ambientação muito interessante e bons personagens. Vale a leitura.

NOTA PARA A LEITURA: 7/10

Por Rafael D’Abruzzo

Resenha: Eu Sou a Lenda (Leituras 2020 – 13/20)

Neste post falarei sobre o livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson. Trata-se de um clássico do Terror / Horror que inspirou muitos autores, inclusive Stephen King.

Achei um livro muito interessante e fácil de ler (além de ser relativamente curto). A história acompanha a vida de Robert Neville, o único sobrevivente em um mundo pós-apocalíptico que foi assolado por uma praga que transformava as pessoas em vampiros.

Sim, vampiros.

Com direito a alergia a crucifixos, dentes de alho e tudo o mais.

Sim, parece uma porcaria.

Não, não é.

A história é muito bem feita e cuida do ponto de vista extremamente intimista do protagonista. O livro usa o pano de fundo de um mundo semi-deserto, hostil à noite, perigoso e deprimente para tratar dos problemas internos do protagonista: sua solidão, seus medos e sua revolta com a situação.

Robert Neville, sendo o único ser humano que não se tornou um vampiro em toda a área que geográfica que conhece, passa os dias bebendo e buscando mantimentos, reforçando sua casa. Passa as noites também bebendo, mas trancado em casa enquanto os vampiros tentam forçar sua entrada para acabar com o último bastião da humanidade. Em meio a tudo isso, tenta se instruir em ciências que o permitam entender a doença que assolou a humanidade, à qual é imune. É uma vida bastante desagradável e isso se reflete na personalidade do personagem.

O livro conta brevemente como era sua vida antes do início do fim dos tempos, como perdeu sua esposa e filha, como viu todos que conhecia se tornarem seres desprovidos de humanidade. Durante o dia, ele mata os vampiros que encontra enquanto estão adormecidos e faz isso com muita violência, questionando sua própria humanidade ao ter que fazê-lo.

Ler “Eu Sou a Lenda” é entrar de cabeça num mundo terrível, cheio de pensamentos violentos e suicidas, numa leitura pesada e, ao mesmo tempo, envolvente pela constante sensação de perigo que envolve a vida do protagonista.

OPINIÃO: Gostei muito do livro, achei a escrita fluída e bem-feita. O narrador te leva para um mundo desagradável e cheio de surpresas, mas sem tornar a leitura maçante e repetitiva. Por ser um livro curto, ele não precisa se dar ao trabalho de explorar pontos desinteressantes e, nas poucas vezes que o faz, é na tentativa de explicar a tal doença que dizimou a humanidade. Em alguns momentos parece que você está lendo um livro de biologia, em outros, um livro de terror. É uma sensação interessante.

O protagonista é interessante e você consegue se colocar na pele dele, imaginando que tomaria ações parecidas ou mesmo idênticas caso fosse você o envolvido naquela situação absurda.

O livro é muito diferente do filme estrelado por Will Smitb, de 2007. No filme, sequer fica claro que as criaturas se tratam de vampiros, de fato. Eu gostei bastante do filme, mas é claramente uma inspiração, não uma adaptação.

Recomendo a leitura, é muito interessante ver como um livro de terror da década de 1950 se mantém atual. Poucas obras conseguem isso.

NOTA PARA A LEITURA: 8/10

Sem mais delongas, iniciamos a análise do final da obra com os SPOILERS. Siga por sua conta e risco.

Ao longo da história do livro, conhecemos o passado de Robert Neville e vemos que ele sofreu demais até se tornar o último ser humano do planeta. Perdeu sua mulher (que voltou dos mortos para tentar matá-lo, inclusive), a filha e seus amigos. Sua vida é uma eterna luta entre sobrevivência e seus impulsos violentos e, por vezes, suicídas.

Para burlar esses pensamentos, Robert começa a estudar como aquela doença é possível e acaba desenvolvendo diversas teorias que se provam, em sua maioria, corretas.

Em determinado ponto do livro, o protagonista conhece o cachorro que é tão icônico no filme de 2007, porém o mesmo aparece em pouquíssimas páginas, está doente e morre logo, apenas agravando a depressão do protagonista.

Por fim, Robert encontra uma mulher, um dia, num campo próximo de onde está. Ele a persegue, captura e leva para sua casa, onde (já bem menos exaltado) conversa com ela e tenta entender como ela sobreviveu tanto tempo. Ele suspeita que ela esteja infectada e, quando vai testá-la, ela o agride e ele desmaia. Quando acorda, ela fugiu e deixou um bilhete, explicando que estava de fato infectada e que foi enviada por uma nova sociedade de “híbridos” que estava espionando Robert. Estes híbridos são vampiros mais “conscientes”, que vão começar uma nova humanidade.

Apesar do conselho dela para que ele fugisse, ele permanece em sua casa e, no final do livro, eles vão capturá-lo. Ele resiste, é alvejado e é levado para esta nova sociedade, na qual ele percebe ser o único diferente. Ele é o destoante, não aqueles seres híbridos. Ele, por ter caçado vampiros por tanto tempo, é uma lenda que precisa ser exterminada para que aquela nova sociedade possa crescer. Esta é a lição final do livro que, inclusive o batiza.

Embora eu não tenha gostado tanto do final, achei bastante justo.

Por Rafael D’Abruzzo

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