Literatura, resenhas de livros e dicas de leitura

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Resenha: As Cavernas de Aço (Leituras 2020 – 12/20)

Hoje vou falar sobre “As Cavernas de Aço”, de Isaac Asimov. Como muitos livros do autor, trata-se de um romance policial de ficção científica.

Já li diversos livros do Asimov (inclusive fiz uma resenha completa da trilogia Fundação, clica no link pra dar uma olhada). O autor é famoso por seus contos e histórias de robôs, muitas vezes entremeados com tramas de mistério e detetives. Este é o caso de “As Cavernas de Aço”.

O livro faz parte de uma série de livros com um mesmo personagem central, Elijah Baley, e seu parceiro de investigações, o robô Daneel Olivaw. Este, por ser o primeiro livro da série, é bastante introdutório e, apesar da trama bem construída e do enredo interessante, acaba tendo o “peso” de criar um universo, deixando a leitura um pouco pesada.

No livro, um assassinato ocorre na Vila Sideral, um posto avançado de colonos humanos de uma sociedade mais desenvolvida na própria Terra, nos arredores de Nova Iorque. No futuro imaginado pelo autor, a humanidade já colonizou diversos planetas e, nesses planetas, evoluiu numa sociedade melhor que a da Terra, sendo chamado de “os Siderais”. Assim, uma dessas sociedade funda uma Vila Sideral para ensinar melhor os humanos do planeta natal sobre como evoluírem de uma forma mais sustentável, em parceria com robôs, que sofrem grande aversão na Terra por serem vistos como algo antinatural, que rouba o emprego de famílias.

Uma vez ocorrido o assassinato, Elijah Baley é escalado como detetive do caso e precisará trabalhar com um robô da Vila sideral (a quem ele imediatamente detesta) como moeda de troca para que a Terra não sofra sanções. A trama evolui envolvendo conspirações e reviravoltas, sendo uma leitura envolvente.

OPINIÃO: Peguei este livro gratuitamente numa promoção da Amazon e confesso que coloquei muita expectativa nele. Talvez por ter lido recentemente Fundação, por muitos consideradas a obra principal de Asimov, esperava um pouco mais desta história.

A história, em si, é muito legal. Os personagens, como quase todos de Asimov, são mutas vezes caricatos e servem bem ao propósito da trama. O que me incomodou um pouco neste livro foi a necessidade de o autor apresentar toda uma sociedade futura com tecnologias imaginadas que acabam por vezes descambando num “technobabble” uma expressão utilizada para identificar aqueles textos em que muitas expressões tecnológicas (reais ou inventadas) são usadas e confundem o leitor.

Claro que esta é uma questão pessoal, inclusive muita gente pode se interessar nas minuciosas descrições do autor sobre como toda a vida na terra depende de uma forma específica de levedura que é cultivada e transformada em centenas de tipos de alimentos ou em como o transporte funciona nesta sociedade tão avançada ou em como uma “megacidade” obtém sua energia para continuar existindo num mundo com recursos naturais cada vez mais escassos. Ok, isso pode ser interessante de início, mas acaba cansando após algum tempo.

Além disso, para uma história de Asimov, a trama do livro é bastante simples e o culpado do crime pode ser adivinhado quase que de início, tirando um pouco do brilho da história.

NOTA PARA A LEITURA: 6/10

Por Rafael D’Abruzzo

Resenha Tripla: Fundação / Fundação e Império / Segunda Fundação (Leituras 2020 – 6, 7 e 8/20)

Deixo aqui minhas impressões e opiniões sobre os livros “Fundação”, “Fundação e Império” e “Segunda Fundação”, de Isaac Asimov.

Nestas obras, conhecida como a Trilogia da Fundação, o autor narra eventos ocorridos com a humanidade num futuro distante, tão distante que não há sequer traço do planeta Terra nesta obra. Toda a história se passa em diversos mundos espalhados pelo universo, já conquistado pela humanidade há muitos milênios.

Os eventos começam a partir do declínio e queda do Império Galático. Hari Seldon, um psico-historiador percebe esta movimentação e leva a questão aos responsáveis do Império.

Através da Psico-História (uma mistura de sociologia, matemática e psicologia de massas), Hari Seldon mapeou os movimentos de grandes civilizações por diversos séculos ou até milênios à frente de seu tempo. A ideia desta ciência é que é possível prever eventos em grandes escalas pois a humanidade se comporta de forma previsível como um grupo, mas não é possível prever eventos individuais ou de pequenos grupos, pois fogem à lógica social, à estatística e às probabilidades.


Hari Seldon preconizou não apenas o fim do império, mas também um período de 30 mil anos de ignorância que se seguiriam a este declínio. Seu plano foi criar uma Fundação Enciclopédica que guardaria o conhecimento do Império Galático e diminuiria este intervalo de barbárie de 30 mil anos para apenas mil anos. Ao término deste período, de acordo com o plano, a Fundação se tornará um novo Império Galático, melhor e mais forte.

Ao apresentar seus estudos para o Império, Hari Seldon é acusado de traição e consegue negociar seu próprio exílio junto de um grupo de cientistas que o segue, bem como a criação de duas Fundações: uma no planeta Terminus (a Fundação que acompanhamos durante toda a trilogia) e outra do outro lado da galáxia, a Segunda Fundação, que tem papel apenas no último livro da saga.

Conforme os livros avançam, as previsões de Seldon se confirmam uma após a outra e a Fundação busca resistir num universo cada vez mais bárbaro ao seu redor.

OPINIÃO: A Trilogia Fundação é uma obra-prima da ficção científica. Isaac Asimov era um escritor muito competente e pouco descritivo. Seus livros mais se assemelham a relatos de eventos do que a um romance. Por ser cientista por formação, a habilidade de Asimov em concatenar eventos, criar tramas e resolver questões de forma sistemática deixam a leitura de seus livros muito dinâmica.

A história desta trilogia é interessante, sem dúvida. Mas para mim, mais pareceu um estudo de sociologia do que um livro de literatura em muitos aspectos. As previsões de Hari Seldon vão se concretizando ao longo do livro e o leitor deve assumir uma leve suspensão de descrença para aceitar este domínio da “mão morta” de Seldon sobre a história. Como isto faz parte da lógica do livro, esta ideia vai se tornando natural ao longo da leitura. No meu caso, o único ponto que tiro da minha nota para a leitura vêm justamente desta necessidade da trama de se ajustar constantemente a este plano original, às vezes de forma não tão convincente. Isto ocorre especialmente no primeiro volume e é superado nos demais.

A história desta trilogia é narrada por muitos personagens e por diversos pontos de vista, não sendo possível apontar um protagonista. O personagem central é a própria Fundação, com seus muitos habitantes. Neste sentido, é uma leitura desafiadora para os que estão acostumados a histórias narradas sempre sob um único ponto de vista. Por se tratar de uma história de proporções galáticas, os pontos de vista e personagens surgem em diversos pontos, com backgrounds e culturas diferentes.

Cabe ao leitor adaptar-se à grandiosidade desta obra que, apesar de ter uma trama complexa, é de leitura simples e cativante.

NOTA PARA A LEITURA: 9/10

Sem mais delongas, iniciamos a análise do final da obra com os SPOILERS. Siga por sua conta e risco.

Nesta resenha, não teremos spoilers detalhados da história pois são diversos eventos que se sucedem rapidamente e a resenha ficaria quase do tamanho do livro. De toda forma, ainda que se revelasse o final dos livros, a história não estaria comprometida como um todo, justamente por ser muito dinâmica. Os spoilers abaixo são conceituais para se entender o todo da história.


No primeiro volume, “Fundação”, é narrada a história de Seldon e, posteriormente, a história da primeira Fundação, já após sua morte. Este primeiro volume é claramente um conjunto de pequenos contos integrados pelo autor como livro, pois são pequenas histórias que se sucedem. Nelas, a Fundação vai superando seus desafios, guerras externas causadas e golpes internos de uma forma ou de outra, seguindo o plano Seldon.


No segundo volume, “Fundação e Império”, a Fundação derrota o Império Galático (ou o que sobrou dele) após ser atacada e se consolida como centro intelectual do universo. Com o tempo, torna-se estagnada e burocrática. Isto até a chegada do Mulo, um mutante não previsto pelo plano Seldon, fruto do acaso. Imprevisível, e capaz de controlar as emoções dos seres humanos, o Mulo subjuga a Fundação e controla a maior parte da galáxia, colocando como objetivo a destruição da Segunda Fundação, sua única possível rival, que está escondida pelo plano original de Seldon.


É revelado, então, que a Segunda Fundação, sobre qual nada se fala nos primeiros livros é a “verdadeira Fundação”, composta por psico-historiadores herdeiros do plano Seldon. Esta fundação sempre observou a primeira e garantiu que seus planos dessem certo, ficando eles mesmos (a Segunda Fundação), nas sombras, como guardiões do plano original.


No último livro desta Trilogia, “Segunda Fundação”, o Mulo busca a Segunda Fundação, mas é vencido por ela na primeira metade do livro, sendo que a primeira Fundação nada sabe sobre esta intervenção. Ao longo do tempo, um grupo da primeira Fundação começa a suspeitar que foi a Segunda Fundação que deteve o Mulo por também ter poderes mentais. A segunda metade da obra presta-se a explicar como este grupo da primeira Fundação e a segunda Fundação se enfrentarão indiretamente para retomar o equilíbrio do plano Seldon.

Como a humanidade ficará ao final destes eventos, se o objetivo do plano Seldon será alcançado e se a Fundação se tornará um novo Império, melhor e mais forte, deixo aos leitores para descobrirem.

Por Rafael D’Abruzzo

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