A terceira leitura do ano foi O Sal das Lágrimas, de Ruta Sepetys.

O livro é ambientado nos momentos finais da segunda guerra mundial e foca num grupo heterogêneo que busca a própria sobrevivência em território alemão prestes a ser invadido pela Rússia.

A autora é filha de um lituano refugiado e, além das memórias familiares, fez um pesado trabalho de pesquisa histórica para escrever o livro que trata de um acontecimento real: o afundamento, pelos russos, de um navio alemão chamado Wilhelm Gustloff no início de 1945, vitimando mais de 9 mil refugiados, inclusive mulheres e crianças. É o pior desastre marítimo da história, superando em seis vezes o número de mortos em relação ao Titanic.

O livro trata da história de quatro jovens que têm o destino entrelaçado em algum momento do livro. Joana é uma enfermeira lituana que foi aceita na Alemanha nazista por uma das políticas hitleristas, mas foi obrigada a deixar a família para trás e tem um passado trágico. Florian é um soldado prussiano que finge estar a serviço do Reich, mas está numa missão pessoal contra o alto escalão nazista. Emília é uma adolescente polonesa que está ilegal em território nazista e tem um segredo terrível que carrega consigo. Por fim, Alfred é um marinheiro do mais baixo escalão nazista, narcisista e com sonhos de grandeza após uma vida de humilhações por não ser considerado exatamente o arquétipo da juventude hitlerista. Sua história é contada através principalmente de cartas nas quais interage com uma jovem alemã vizinha de sua família, contando seus inventados feitos de guerra enquanto limpa banheiros no navio.

Os três primeiros personagens encontram Alfred na metade do livro, mais ou menos, e acabam dependendo dele para embarcarem e se manterem no navio para fugir.

Uma história de luta, tragédia e dor, contada com muito sentimento pela autora. Vale a leitura, sem dúvida, ainda mais por se tratar de um livro de segunda guerra mundial sob uma ótica diferente da de sempre.

OPINIÃO: Gostei muito do livro, achei o ponto de vista dos protagonistas diversificados e complementares entre si.

Cada um é assombrado por algum sentimento conflitante e tem um objetivo definido. As motivações são compreensíveis e factíveis, embora eu entenda que a carga romântica colocada na história é desnecessária e até traduz um contrassenso para um momento tão difícil da vida dos personagens. Senti que há um romance forçado na trama e isso atrapalha um pouco a experiência.

Fora isso, a história é ótima, faz você refletir sobre “o outro lado da guerra” e as cenas de violência causam impacto no leitor, já que são apresentadas “de repente”, como se espera de uma guerra, em que não há anúncio prévio de um bombardeio, por exemplo.

A autora apresenta sentimentos diversos em seus personagens e lida muito bem com as consequências que cada escolha traz ao grupo. Muito bem escrito.

NOTA PARA A LEITURA: 8/10

Sem mais delongas, iniciamos a análise do final da obra com os SPOILERS. Siga por sua conta e risco.

Com o avanço da história, descobrimos os segredos dos protagonistas: Joana abandonou a família e deixou a irmã para morrer. Florian está traindo o Reich contrabandeando uma obra de arte cobiçada por Hitler, a quem odeia já que seu pai foi morto pela polícia nazista por ter participado do atentado da operação valquiria. Emília foi estuprada por soldados russos após ser entregue por uma mãe nazista para proteger a própria filha. Alfred é fraco, mimado e denunciou sua amada, para quem escreve, causando sua desgraça.

Quando finalmente o embarque no navio começa, Alfred busca seu reconhecimento ajudando Florian, que se apresenta como um soldado em missão especial pelo alto escalão nazista. Joana é recrutada como enfermeira e ajuda no parto de Emília.

Quando o navio é atacado, Emília sucumbe, mas o bebê é salvo por Florian. Alfred entra num surto psicótico e morre de uma forma patética, como foi sua vida até então. Florian e Joana constituem uma família (o romance forçado do livro), criando a filha de Emília.

O livro acaba com uma carta de uma mulher a Florian, tornando pública a história de Emília e daquele grupo que sobreviveu ao maior desastre marítimo de todos os tempos.

Por Rafael D’Abruzzo