Literatura, resenhas de livros e dicas de leitura

Resenha: Fahrenheit 451 (Leituras 2020 – 16/20)

Depois de muitos anos na minha lista de leitura, finalmente li Fahrenheit 451 de Ray Bradbury.

“Queimar era um prazer.”

Fahrenheit 451 é um desses livros que você precisa ler uma vez na vida. Primeiro porque é muito bom e, segundo, porque ele inspirou muitas outras histórias por aí (inclusive o próximo livro que resenharei aqui). Ainda que distopia não seja seu gênero favorito, este livro merece sua atenção junto com 1984 e Admirável Mundo Novo (que eu particularmente não gostei, mas isso é assunto pra outra hora). Há quem inclua O Conto da Aia nessa lista também e acho mais que justo.

O livro conta a história de Montag, um bombeiro (fireman) cujo trabalho não é apagar incêndios, mas sim criá-los. Num futuro distópico em que é proibido ter livros, o departamento de bombeiros é responsável por queimar os livros e as casas dos seus proprietários. Aliás, Fahrenheit 451 é a temperatura do ponto de queima do papel.

O problema todo é que Montag acaba fascinado por livros e esconde alguns em seu próprio apartamento, o que move a trama.

No futuro distópico de Fahrenheit 451, a sociedade “evoluiu” ao ponto de não ser necessário ler praticamente nada. O entretenimento é todo providenciado por telas gigantes com programas sem enredo e programas de rádio com propagandas de slogans grudentos. A mulher de Montag é a cria estereotipada deste futuro: vive uma vida vazia, migrando de programa em programa para preencher a ausência de senso crítico. No início do livro ela toma um frasco inteiro de comprimidos e não fica certo se ela desejava se matar ou se apenas se esqueceu de que já tinha tomado um e depois o outro, demonstrando a ausência de pensamentos em sua vida. Montag chega em casa a ponto de chamar ajuda e ela sobrevive, tendo um papel importante a desempenhar no livro.

O próprio Montag vive uma vida (quase) tão vazia até conhecer sua vizinha Clarisse, uma adolescente diferente que o faz refletir logo no início do livro acerca de sua própria condição e estado emocional. Daí pra frente, deixo para vocês a experiência da leitura.

OPINIÃO: Permeado de reflexões sobre felicidade, cultura e emoções, Fahrenheit 451 atinge o leitor como uma pedrada no rosto. Trata-se de uma história densa que faz o leitor até esquecer um pouco de que se trata de uma distopia, já que em muitos momentos a narrativa se torna intimista e reflete problemas de nossa sociedade, como a liquidez das relações, o domínio das massas com entretenimento barato e enviesado e a ausência de controle do indivíduo sobre a sociedade que o cerca.

O estilo narrativo é simples e comum, não causando estranheza ao leitor além do que a trama propõe. O personagem principal é o único com a psique mais explorada, pois é ele quem passa pela transformação da jornada. Os demais personagens são planificados (talvez de propósito), permitindo que o leitor acompanhe a evolução de Montag.

O mundo criado, opressor mas sem a violência exagerada de 1984 ou a dominação camuflada de Admirável Mundo Novo, é assustador por sua própria proposta: um mundo estúpido, sem cultura, vazio e despropositado.

Fahrenheit 451 foi uma leitura muito esperada e não me decepcionou, desde o começo até o final catártico. Recomendo.

NOTA PARA A LEITURA: 9/10

Por Rafael D’Abruzzo

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1 Comment

  1. Isaac

    Fiquei curioso… Deixar na mira.

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