O livro da vez é “Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente”, da Luísa Geisler.

Trata-se de um livro com narrativa quase integralmente epistolar, ou seja, em forma de cartas. O personagem principal, Henrique, escreve cartas para seu amigo Gabriel, que está em coma após um acidente doméstico.
Ao longo da narrativa, vemos as reflexões de Henrique sobre sua vida pacata (ou não tanto assim) em Canoas/RS, passando por temas como inseguranças, drogas, relacionamentos, sexualidade, família e carreira.
Henrique é um jovem ainda em fase de formação, cursando faculdade e envolvido em um relacionamento com Manuela, uma garota com fortes tendências depressivas. O próprio Henrique parece muitas vezes oscilar entre a euforia juvenil e o vazio existencial da vida de um jovem numa cidade pequena, sem perspetivas de futuro e atado às expectativas de todos.
A narrativa avança através das cartas de Henrique contando o que está acontecendo em sua vida e de seus amigos e família para Gabriel, “para quando tu acordar”, diz ele com frequência nas cartas. Os meses se alongam e nada de Gabriel acordar. A ausência do melhor amigo em sua vida faz Henrique mudar alguns comportamentos e exponenciar suas dificuldades de relacionamento.
Acompanhar esta história é um exercício de empatia, o que pode levar a boas reflexões pelo leitor.
OPINIÃO: Gostei muito da história do livro, das inseguranças de Henrique, das suas dúvidas quanto à quem é e do que gosta.
É o tipo de livro que talvez não agrade a todos pois o “fio condutor” da história não é forte. Por vezes, sequer compreendemos qual é este fio, devido ao formato da narrativa. Às vezes me questionava se o objetivo principal do livro era discutir o vazio existencial da vida do personagem ou sua sexualidade, confundida pela presença de Dante.
Porém, o que eu não gostei neste livro não foi o modo da narrativa. Já li livros muito bons em forma epistolar ou com grandes fluxos de pensamento, como é o caso deste livro. Repito, a história de “Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente” é muito boa.
O que eu não gostei neste livro foi a linguagem.
Não me refiro aqui ao uso de gírias e simulação do sotaque gaúcho. Estou me referindo à “voz narrativa” do personagem principal. Para mostrar suas insatisfações, o personagem principal entra em longas reflexões cheias de amargor e, por vezes, palavrões que perdem o sentido e me fizeram simplesmente pular parágrafos gigantes de absolutamente nada.
Já li outros livros da Luísa Geisler (indico aqui o excelente “Enfim Capivaras”) e sei que ela é uma autora incrível. Infelizmente, este estilo narrativo adotado por ela neste livro não me agradou desta vez. Mas isso não quer dizer absolutamente nada e é por isso que esta parte da resenha se chama “opinião”. O que me desagradou pode ser justamente o que vai agradar outro.
Vale a leitura, apesar destes problemas que me cansaram um pouco.
NOTA PARA A LEITURA: 7/10
Por Rafael D’Abruzzo