Neste post falarei sobre o livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson. Trata-se de um clássico do Terror / Horror que inspirou muitos autores, inclusive Stephen King.

Achei um livro muito interessante e fácil de ler (além de ser relativamente curto). A história acompanha a vida de Robert Neville, o único sobrevivente em um mundo pós-apocalíptico que foi assolado por uma praga que transformava as pessoas em vampiros.

Sim, vampiros.

Com direito a alergia a crucifixos, dentes de alho e tudo o mais.

Sim, parece uma porcaria.

Não, não é.

A história é muito bem feita e cuida do ponto de vista extremamente intimista do protagonista. O livro usa o pano de fundo de um mundo semi-deserto, hostil à noite, perigoso e deprimente para tratar dos problemas internos do protagonista: sua solidão, seus medos e sua revolta com a situação.

Robert Neville, sendo o único ser humano que não se tornou um vampiro em toda a área que geográfica que conhece, passa os dias bebendo e buscando mantimentos, reforçando sua casa. Passa as noites também bebendo, mas trancado em casa enquanto os vampiros tentam forçar sua entrada para acabar com o último bastião da humanidade. Em meio a tudo isso, tenta se instruir em ciências que o permitam entender a doença que assolou a humanidade, à qual é imune. É uma vida bastante desagradável e isso se reflete na personalidade do personagem.

O livro conta brevemente como era sua vida antes do início do fim dos tempos, como perdeu sua esposa e filha, como viu todos que conhecia se tornarem seres desprovidos de humanidade. Durante o dia, ele mata os vampiros que encontra enquanto estão adormecidos e faz isso com muita violência, questionando sua própria humanidade ao ter que fazê-lo.

Ler “Eu Sou a Lenda” é entrar de cabeça num mundo terrível, cheio de pensamentos violentos e suicidas, numa leitura pesada e, ao mesmo tempo, envolvente pela constante sensação de perigo que envolve a vida do protagonista.

OPINIÃO: Gostei muito do livro, achei a escrita fluída e bem-feita. O narrador te leva para um mundo desagradável e cheio de surpresas, mas sem tornar a leitura maçante e repetitiva. Por ser um livro curto, ele não precisa se dar ao trabalho de explorar pontos desinteressantes e, nas poucas vezes que o faz, é na tentativa de explicar a tal doença que dizimou a humanidade. Em alguns momentos parece que você está lendo um livro de biologia, em outros, um livro de terror. É uma sensação interessante.

O protagonista é interessante e você consegue se colocar na pele dele, imaginando que tomaria ações parecidas ou mesmo idênticas caso fosse você o envolvido naquela situação absurda.

O livro é muito diferente do filme estrelado por Will Smitb, de 2007. No filme, sequer fica claro que as criaturas se tratam de vampiros, de fato. Eu gostei bastante do filme, mas é claramente uma inspiração, não uma adaptação.

Recomendo a leitura, é muito interessante ver como um livro de terror da década de 1950 se mantém atual. Poucas obras conseguem isso.

NOTA PARA A LEITURA: 8/10

Sem mais delongas, iniciamos a análise do final da obra com os SPOILERS. Siga por sua conta e risco.

Ao longo da história do livro, conhecemos o passado de Robert Neville e vemos que ele sofreu demais até se tornar o último ser humano do planeta. Perdeu sua mulher (que voltou dos mortos para tentar matá-lo, inclusive), a filha e seus amigos. Sua vida é uma eterna luta entre sobrevivência e seus impulsos violentos e, por vezes, suicídas.

Para burlar esses pensamentos, Robert começa a estudar como aquela doença é possível e acaba desenvolvendo diversas teorias que se provam, em sua maioria, corretas.

Em determinado ponto do livro, o protagonista conhece o cachorro que é tão icônico no filme de 2007, porém o mesmo aparece em pouquíssimas páginas, está doente e morre logo, apenas agravando a depressão do protagonista.

Por fim, Robert encontra uma mulher, um dia, num campo próximo de onde está. Ele a persegue, captura e leva para sua casa, onde (já bem menos exaltado) conversa com ela e tenta entender como ela sobreviveu tanto tempo. Ele suspeita que ela esteja infectada e, quando vai testá-la, ela o agride e ele desmaia. Quando acorda, ela fugiu e deixou um bilhete, explicando que estava de fato infectada e que foi enviada por uma nova sociedade de “híbridos” que estava espionando Robert. Estes híbridos são vampiros mais “conscientes”, que vão começar uma nova humanidade.

Apesar do conselho dela para que ele fugisse, ele permanece em sua casa e, no final do livro, eles vão capturá-lo. Ele resiste, é alvejado e é levado para esta nova sociedade, na qual ele percebe ser o único diferente. Ele é o destoante, não aqueles seres híbridos. Ele, por ter caçado vampiros por tanto tempo, é uma lenda que precisa ser exterminada para que aquela nova sociedade possa crescer. Esta é a lição final do livro que, inclusive o batiza.

Embora eu não tenha gostado tanto do final, achei bastante justo.

Por Rafael D’Abruzzo