Hoje falo sobre “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess e já adianto: não gostei de ler o livro. E isto não quer dizer que não gostei do livro. Leiam a resenha para entender esta complexidade quase esquizofrênica deste resenhista.

“Laranja Mecânica” é um clássico da literatura e do cinema. Stanley Kubrick adaptou a obra na década de 70 para o áudio visual estrelando Malcolm McDowell e o filme foi um sucesso, considerado um clássico até hoje. O filme é uma transcrição quase exata da história do livro, divergindo apenas um pouco no final.
A história se passa num futuro incerto e distópico, num ambiente controlado por um governo opressor (mencionado muito vagamente). Neste cenário, a juventude é o foco do livro e o protagonista, Alex, é um adolescente que comanda uma pequena gangue de meliantes cujas únicas atividades são usar drogas e performar episódios de violência (tudo muito “horrorshow”, na linguagem do livro).
Sob a ótica de Alex, a história transcorre passando pela caracterização, auge e queda do protagonista, que acaba preso durante um ataque e sentenciado a um longo tempo na cadeia. Durante sua pena, Alex descobre um método alternativo de cumprimento de pena, passando por um experimento social/científico chamado “método Ludovico” que dura 15 dias e consiste em obrigar o paciente a fazer associações ruins entre a violência e mal-estar corporal e mental.
Diante da perspectiva de ser livre novamente em apenas 15 dias, Alex participa do experimento que tem consequências brutais.
OPINIÃO: A história de “Laranja Mecânica” é excelente. Muito bem-pensada e executada. É um livro curto e certeiro.
Mas não gostei de ler o livro.
Isto se deve ao uso proposital do autor de um vocabulário de gírias próprio para a juventude da época, a linguagem “Nadsat”, inspirada no russo. Por conta disso, o livro tem um enorme glossário que o leitor pode consultar para entender melhor o que está acontecendo. Eu tentei ler desta forma por duas vezes e desisti nas primeiras páginas.
Apenas quando resolvi ler o livro sem consultar o glossário, buscando entender o contexto sem necessariamente compreender todas as palavras, comecei a avançar na leitura. Acredito que esta tenha sido a intenção do autor, de causar uma estranheza no leitor. Assim, li “Laranja Mecânica” sem entender boa parte das palavras no texto, mas deduzindo seus significados por seu contexto e recorrência (e haja recorrência, já que o livro inteiro é narrado na perspectiva de Alex, que narra usando essas gírias o tempo todo, não apenas nos diálogos).
Eu poderia ter achado legal, inclusive ter me surpreendido com minha capacidade de preencher lacunas textuais apenas com o contexto e me sentir incrivelmente inteligente por minha perspicácia. Mas não. Só achei chato mesmo. O livro poderia / deveria ter notas de rodapé em todas as páginas para cada palavra, inclusive repetidas. Isto deixaria a leitura menos cansativa. Esta é a razão de eu ter tirado tantos pontos na minha nota para a leitura. Lembrando que não sou crítico literário nem um grande pensador pós-moderno, então não precisam se sentir afrontados com minha opinião pessoal.
De toda forma, a história é muito boa. Muito boa mesmo. Mesmo tendo visto o filme algumas vezes, o livro conseguiu me prender, então apesar do percalço da linguagem, é uma leitura válida e recomendada. Até porque é uma questão de gosto, cada um vai achar uma coisa e isso é a magia da literatura: nem tudo agrada todo mundo.
NOTA PARA A LEITURA: 6/10.
Por Rafael D’Abruzzo
