Literatura, resenhas de livros e dicas de leitura

Month: July 2020

Resenha: Fahrenheit 451 (Leituras 2020 – 16/20)

Depois de muitos anos na minha lista de leitura, finalmente li Fahrenheit 451 de Ray Bradbury.

“Queimar era um prazer.”

Fahrenheit 451 é um desses livros que você precisa ler uma vez na vida. Primeiro porque é muito bom e, segundo, porque ele inspirou muitas outras histórias por aí (inclusive o próximo livro que resenharei aqui). Ainda que distopia não seja seu gênero favorito, este livro merece sua atenção junto com 1984 e Admirável Mundo Novo (que eu particularmente não gostei, mas isso é assunto pra outra hora). Há quem inclua O Conto da Aia nessa lista também e acho mais que justo.

O livro conta a história de Montag, um bombeiro (fireman) cujo trabalho não é apagar incêndios, mas sim criá-los. Num futuro distópico em que é proibido ter livros, o departamento de bombeiros é responsável por queimar os livros e as casas dos seus proprietários. Aliás, Fahrenheit 451 é a temperatura do ponto de queima do papel.

O problema todo é que Montag acaba fascinado por livros e esconde alguns em seu próprio apartamento, o que move a trama.

No futuro distópico de Fahrenheit 451, a sociedade “evoluiu” ao ponto de não ser necessário ler praticamente nada. O entretenimento é todo providenciado por telas gigantes com programas sem enredo e programas de rádio com propagandas de slogans grudentos. A mulher de Montag é a cria estereotipada deste futuro: vive uma vida vazia, migrando de programa em programa para preencher a ausência de senso crítico. No início do livro ela toma um frasco inteiro de comprimidos e não fica certo se ela desejava se matar ou se apenas se esqueceu de que já tinha tomado um e depois o outro, demonstrando a ausência de pensamentos em sua vida. Montag chega em casa a ponto de chamar ajuda e ela sobrevive, tendo um papel importante a desempenhar no livro.

O próprio Montag vive uma vida (quase) tão vazia até conhecer sua vizinha Clarisse, uma adolescente diferente que o faz refletir logo no início do livro acerca de sua própria condição e estado emocional. Daí pra frente, deixo para vocês a experiência da leitura.

OPINIÃO: Permeado de reflexões sobre felicidade, cultura e emoções, Fahrenheit 451 atinge o leitor como uma pedrada no rosto. Trata-se de uma história densa que faz o leitor até esquecer um pouco de que se trata de uma distopia, já que em muitos momentos a narrativa se torna intimista e reflete problemas de nossa sociedade, como a liquidez das relações, o domínio das massas com entretenimento barato e enviesado e a ausência de controle do indivíduo sobre a sociedade que o cerca.

O estilo narrativo é simples e comum, não causando estranheza ao leitor além do que a trama propõe. O personagem principal é o único com a psique mais explorada, pois é ele quem passa pela transformação da jornada. Os demais personagens são planificados (talvez de propósito), permitindo que o leitor acompanhe a evolução de Montag.

O mundo criado, opressor mas sem a violência exagerada de 1984 ou a dominação camuflada de Admirável Mundo Novo, é assustador por sua própria proposta: um mundo estúpido, sem cultura, vazio e despropositado.

Fahrenheit 451 foi uma leitura muito esperada e não me decepcionou, desde o começo até o final catártico. Recomendo.

NOTA PARA A LEITURA: 9/10

Por Rafael D’Abruzzo

Resenha: Os Pilares da Terra (Leituras 2020 – 15/20)

Hoje falo sobre Os Pilares da Terra, de Ken Follet. Uma ficção histórica cheia de reviravoltas.

Os Pilares da Terra é aclamado por muitos como o melhor livro de Ken Follet. Confesso que foi o melhor dele que já li até agora, mas não saberia julgar toda a bibliografia dele, já que só li 3 livros do autor.

Ao longo das quase 1000 páginas do livro, acompanhamos alguns personagens interessantes que retratam as principais classes sociais da época: Philip, um monge, William, um nobre, Tom, um construtor e Aliena, uma comerciante. A história conta, naturalmente, com muitos outros personagens, secundários e terciários, que movem a história para a frente.

A história gira em torno da construção de uma catedral na cidade fictícia de Kingsbridge, na Inglaterra. A vida de todos os personagens são afetadas, direta ou indiretamente pela construção da catedral e isso é colocado de uma forma muito orgânica no livro, que por vezes parece até uma aula de arquitetura.

Por se tratar de um livro “épico”, muitas décadas se passam entre o início e o fim da narrativa e inúmeros eventos mudam a trama a cada momento, fazendo o leitor mergulhar na leitura. Nem parece ter que mil páginas no final das contas.

Conforme a história avança, os personagens amadurecem, evoluem em diversas direções e as relações entre eles também é modificada e o fio condutor da história segue de forma linear, dando ao leitor também uma sensação de satisfação de descobrir a história num ritmo agradável.

Foi feita uma adaptação uma uma minissérie para a televisão britânica há alguns anos e é bem legal também. A história da minissérie e do livro são bem diferentes, mas uma não atrapalha a experiência da outra.

OPINIÃO: Gostei muito do livro, achei uma história bem feita, claramente pensada do início ao fim. Os personagens são sólidos e mesmo os personagens mais unidimensionais o são por um bom motivo. A trama é envolvente e não cansa o leitor.

Embora eu tenha gostado, reconheço que as longas descrições de como se constrói uma catedral podem ser cansativas para alguns leitores. Mas é o tipo de coisa que você pode simplesmente pular caso não goste, sem prejuízo da trama em si.

Além disso, por ser um livro que se passa no século XII, o autor abusa das descrições geográficas e culturais da época, sendo um prato cheio para os leitores que gostam do gênero literário da ficção histórica.

Os únicos pontos negativos para mim foram a extensão dos capítulos (longos demais para um livro deste tamanho) e as cenas de intimidade entre os personagens. As cenas de sexo são terríveis e há um uso excessivo de estupros como fontes de motivação para personagens femininas se fortalecerem. Esse recurso de roteiro tem sido cada vez menos usado e este livro é um exemplo claro do porquê.

Tirando isso, recomendo muito a leitura tanto pelo aprendizado histórico quanto pela trama em si.

NOTA PARA A LEITURA: 9/10

Por Rafael D’Abruzzo

Resenha: Guerra do Velho (Leituras 2020 – 14/20)

Hoje falarei do livro “Guerra do Velho”, de John Scalzi. É uma space opera militar, gênero que não me agrada tanto, mas este livro valeu cada momento de leitura.

A história se passa num futuro incerto, no qual os seres humanos, após completar seu 75º aniversário, podem se alistar a uma organização militar chamada “Forças Coloniais de Defesa”. O alistamento é voluntário, mas as pessoas não têm qualquer ideia do que o serviço envolve, apenas que se trata de uma espécie de exército que protege a humanidade de outras raças colonizadoras do universo e que os recrutas são “rejuvenescidos”. O protagonista do livro, John Perry, se alista na FCD no seu aniversário, após a morte de sua esposa e vendo que seu filho já tinha um futuro bem-definido.

Pois bem, normalmente eu passaria uma sinopse como esta, pois não sou muito fã deste nicho específico de literatura. Porém, ouvi falar muito bem deste livro e resolvi conferir. Não me arrependi.

A história acompanha o recruta John Perry conforme ele descobre os segredos das Forças Coloniais de Defesa e desbrava o universo, conhece outras raças de seres espaciais e suas idiossincrasias e ascende em sua carreira militar. Tudo isto permeado de bastante ação, humor e, às vezes, informações demais.

O livro inteiro é uma sequência de surpresas, então qualquer coisa além do que já falei aqui estragaria a experiência de leitura de vocês, caso estejam interessados. Esta resenha também não terá a seção de spoilers, pois isso seria um desserviço ao livro. Como a progressão da história é importante para a sua compreensão, contar a historia do livro e o final seria, além de exaustivo e quase infindável, despropositado.

OPINIÃO: Conforme eu disse, este não é meu tipo de história favorita. Livros como este sempre contém várias armas e tecnologias militares inventadas que, francamente, me cansam um pouco. Há muitos detalhes sobre funcionamento de lasers, bombas e outros apetrechos que interessam vários leitores, mas que me cansam um pouco. Este livro não foge à regra.

Mas a história do livro é muito boa e isso me fez relevar esta excruciante quantidade de “technobabble” e batalhas confusas. A escrita é envolvente e você tem o desejo de continuar ao término de cada capítulo. Li este livro em 4 dias porque você simplesmente quer saber para onde a história vai. Isso é um mérito muito grande do autor.

Achei, por vezes, que os recursos de roteiro foram usados em demasia e que a história parece um pouco forçada, mas isso ainda assim não estraga a experiência da leitura.

NOTA PARA A LEITURA: 7/10

Por Rafael D’Abruzzo

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